O mês de setembro é marcado por uma campanha muito importante no Brasil: o Setembro Amarelo, dedicada à conscientização sobre a prevenção do suicídio. Desde 2015, a iniciativa da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM) visa quebrar tabus e promover diálogos essenciais sobre saúde mental.
O que é o Setembro Amarelo?
Mais do que uma campanha de conscientização, o Setembro Amarelo é, sem dúvida, um convite para olharmos com mais atenção para as pessoas ao nosso redor, a fim de identificar sinais de sofrimento emocional e, consequentemente, oferecer apoio. Afinal, todos nós podemos, de alguma forma, ser a ajuda que alguém precisa.
O suicídio, infelizmente, é um problema de saúde pública que afeta milhões de pessoas em todo o mundo. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que, a cada ano, mais de 700 mil pessoas morrem por suicídio, o que então representa uma morte a cada 40 segundos. Além disso, muitas outras tentam tirar a própria vida ou sofrem em silêncio com pensamentos suicidas.
Entre os principais fatores de risco estão depressão, transtornos de ansiedade, abuso de substâncias, isolamento social, histórico de traumas e violência. No entanto, o suicídio não é o resultado de um único fator, mas uma combinação de circunstâncias e vulnerabilidades que precisam ser compreendidas e tratadas com sensibilidade e respeito.
Sinais de alerta: Como identificar?
Muitas vezes, pessoas que estão enfrentando pensamentos suicidas demonstram sinais, mas estes podem passar despercebidos ou serem mal interpretados. Saber identificar esses sinais pode fazer toda a diferença na vida de alguém. Alguns comportamentos que podem indicar sofrimento incluem:
- Isolamento social: afastamento de amigos e familiares.
- Mudanças bruscas de humor: episódios de euforia seguidos por tristeza intensa.
- Comentários sobre sentir-se sem valor ou ser um fardo para os outros.
- Perda de interesse em atividades que antes eram prazerosas.
- Alterações nos padrões de sono e apetite.
- Ações imprudentes ou comportamentos autodestrutivos.
- Falas sobre morte ou suicídio, mesmo que de forma sutil ou em tom de brincadeira.
Ao perceber esses sinais, é importante agir com empatia e cuidado. Muitas vezes, um simples "como você está?" ou "precisa de ajuda?" pode, certamente, abrir um espaço de confiança para que a pessoa compartilhe seus sentimentos.
Como identificar possíveis sinais de depressão e ansiedade?
A depressão e a ansiedade estão entre os transtornos mentais mais comuns e, sem dúvida, são fatores de risco importantes para o suicídio. Embora seja essencial que o diagnóstico seja feito por um médico, como um psiquiatra e/ou psicólogo, amigos e familiares podem estar atentos a alguns sinais que indicam que uma pessoa está sofrendo com esses transtornos.
Sinais de Depressão
A depressão afeta não apenas o humor, mas também o corpo e o comportamento. Entre os principais sintomas que podem ser observados estão:
- Tristeza persistente: sensação de vazio ou desesperança que dura semanas ou meses.
- Falta de energia: cansaço extremo, mesmo após uma noite de sono.
- Dificuldade de concentração: incapacidade de focar em tarefas simples ou de tomar decisões.
- Desinteresse generalizado: perda de prazer em atividades que antes eram agradáveis.
- Alterações no apetite: aumento ou diminuição acentuada do apetite, com consequente ganho ou perda de peso.
- Problemas de sono: insônia ou dormir excessivamente.
- Baixa autoestima: sentimentos de inutilidade, culpa ou fracasso.
- Pensamentos suicidas: falas ou comportamentos que indicam desejo de morrer ou de acabar com o sofrimento.
Sinais de Ansiedade
A ansiedade é, inicialmente, uma resposta natural ao estresse, mas quando ela se torna intensa, frequente e incapacitante, pode indicar um transtorno de ansiedade. Alguns sinais comuns incluem:
- Preocupação excessiva: pensamentos constantes e irracionais sobre situações do cotidiano.
- Inquietação ou nervosismo: sensação de estar “à beira”, dificuldade em relaxar.
- Sintomas físicos: taquicardia, tremores, sudorese, tonturas e falta de ar.
- Evitação: tendência a evitar situações que provocam ansiedade, assim como, encontros sociais ou eventos importantes.
- Medo excessivo: fobias e medo exagerado de situações comuns.
- Dificuldade em controlar a preocupação: mesmo em situações onde a ameaça não é real, o medo e a tensão permanecem.
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Como ajudar alguém em sofrimento?
Se você identificar que alguém próximo a você está passando por um momento difícil, existem algumas formas de agir para ser a ajuda que essa pessoa precisa:
- Escute sem julgar: Esteja presente e ouça atentamente o que a pessoa tem a dizer, sem interromper ou minimizar seus sentimentos. Demonstre que você está lá para ela.
- Seja um ponto de apoio: Pergunte de forma direta se a pessoa está pensando em tirar a própria vida. Pode parecer uma pergunta difícil, mas mostrar que você está disposto a falar sobre o assunto pode oferecer um grande alívio.
- Encoraje a busca de ajuda profissional: Psiquiatras, psicólogos e outros profissionais de saúde mental são capacitados para lidar com crises emocionais e proporcionar o suporte necessário.
- Acompanhe de perto: Não basta conversar uma única vez. Mantenha contato, ofereça sua companhia e demonstre que você se importa, assim você se tornará um ponto de apoio.
- Evite promessas vazias: Frases como "vai passar" ou "tudo vai ficar bem" podem soar insensíveis em momentos de dor profunda. Em vez disso, ofereça apoio concreto, como ir junto à consulta médica ou ajudar em tarefas do dia a dia.
Além da ajuda individual, é fundamental que como sociedade tenhamos um papel mais ativo na prevenção do suicídio. Isso inclui, por exemplo, a redução do estigma associado a transtornos mentais e à busca de tratamento psicológico e psiquiátrico. “Campanhas como o Setembro Amarelo servem para nos lembrar da importância de abordar a saúde mental com a mesma seriedade que tratamos a saúde física”.
Onde encontrar ajuda?
Empresas, escolas, comunidades e instituições públicas podem (e devem) criar ambientes acolhedores, onde as pessoas sintam-se seguras para falar sobre suas emoções sem medo de julgamentos. Quanto mais abertamente falarmos sobre o tema, mais fácil será reconhecer que não há vergonha em pedir ajuda.
Se você está enfrentando uma situação difícil ou conhece alguém que precisa de apoio, não hesite em procurar ajuda. No Brasil, existem diversas formas de suporte:
- Centro de Valorização da Vida (CVV): oferece atendimento gratuito e sigiloso pelo telefone 188 ou pelo site, através de chat e e-mail. Clique aqui.
- Serviços públicos de saúde: unidades do SUS, como CAPS (Centros de Atenção Psicossocial), oferecem atendimento especializado para transtornos mentais.
O Setembro Amarelo nos lembra que o cuidado com a saúde mental deve ser uma prioridade todos os dias. Ao sermos mais atentos, empáticos e abertos ao diálogo, podemos salvar vidas. Seja a pessoa que oferece uma palavra amiga, que escuta sem julgar e que incentiva a busca por ajuda profissional. Afinal, você pode ser a ajuda que alguém tanto precisa.
Lembre-se: Falar é a melhor solução!